Minha lista de blogs

segunda-feira, 25 de maio de 2009

UM, DOIS, TRÊS, a dança é o pensamento do corpo.Helena Katz.


O livro trata dos seguintes argumentos: percepção/cognição, conhecimento e evolução. Aproxima os conhecimentos científicos dos conhecimentos da arte através dos Princípios de Gödel e de Heisenberg.
Propõe a discussão de um corpo plural e complexo, que transita socialmente, com capacidade de adaptação, um corpo que não é máquina, mas um sistema aberto a trocas e contaminações, transformando-se e transformando o meio em que vive numa relação em que corpo e ambiente mostram-se diretamente implicados. Em outras palavras, relações entre corpo e ambiente a partir de uma perspectiva co-evolutiva, questionando a dança como linguagem corporal universal e tentando precisar conceitos, contra os “achismos”.
A semiótica de Peirce conduz às investigações na obra, assim como a física contemporânea, as ciências cognitivas e a teoria evolucionista neo-darwinista, que entram como dados empíricos, para reforçar a idéia para a elaboração de uma teoria (corpomídia) sobre o entendimento de dança. Helena Katz, propõe a importância de elaborar para a dança uma teoria com base em aproximações naquilo que teoriza, ressaltando que não é uma teoria completa, mas uma possibilidade de entendimento sobre dança e suas ações. Na sua citação sobre o universo ela cautelosamente enfatiza a discussão científico-filosófica na compreensão dos fenômenos da vida. Ou seja, com sua amplitude de conhecimento ela nos direciona a caminhos que resvalam para (re)conhecer que estamos envolvidos em implicações fenomênicas nas quais o corpo é um sistema aberto e imerso em processos auto-organizadores.
Os conceitos de Peirce são os primeiros a serem trabalhados na obra; fala da processualidade da leitura sobre as coisas do mundo,e da inexistência de essências eternas. Ressalta as implicações de quem está observando naquilo que observa. Enfim, em sua discussão ela amplia e ressalta a importância do estudo do corpo, de acordo com os princípios anteriormente citados, numa tentativa de quebrar padrões de pensamento segundo os quais a dança, por falta de produção atualizada, é conhecida como Linguagem do Indizível e Linguagem corporal Universal, como diz Fabiana Dultra em sua tese Parâmetros para uma história contemporânea: Mecanismos de Comunicação entre corpo e dança.
Muito importante na obra são as questões acerca do movimento: o corpo no seu contexto biológico com seus aspectos físico-cognitivos encontra-se em ação não determinista, ou seja, as imprecisões existem, fazem parte da ação e geram movimento. Assim, segundo a autora cada movimento nunca será igual, resulta de um ajuste (corpo/mente) e gera um evento único irrepetível.
Helena Katz, deixa claro em suas argumentações que matizes que geram movimento, são anteriores a ele, e sua ação requer um programa motor que cria um padrão espaço/tempo de acionamento das células. Falar desta forma de corpo e movimento implica afirmar que o universo é um fluxo de interações, assim, corpo e ambiente estão concomitantemente em ação e a relação corpo com ambiente é uma conseqüência da funcionalidade dos órgãos do sentido. Sendo assim, no momento que o movimento aparece, já é resultado da percepção; ambos atuam juntos e enquanto o cérebro traduz as informações perceptuais o corpo age similarmente.
A autora reflete sobre uma questão importante em relação à física clássica: que mesmo com o rigor das leis mecânicas existe o imprevisível, o improvável, e o compara ao tecer de uma teia, sem princípio nem fim determinado, poeticamente.
Discutir, articular idéias, consequentemente produzindo conhecimento, faz parte do processo evolutivo, assim como em outras áreas, produzir conhecimento em dança tornou-se uma necessidade evolutiva para sua permanência. Como diz a autora, o conhecimento do corpo evoluiu, e para se dar conta desta complexidade que envolve seu o estudo (elementos químicos, tecidos e impulsos nervosos) surge à necessidade de criar conexões com outras áreas. Assim, traz a semiótica de Peirce com um princípio de cooperação nesta ação de formulação teórica, para criar uma provocação e respaldar que como seres humanos nós aprendemos a realidade com formas simbólicas, representamos algo por analogia e não por semelhança, em relação ao objeto que nos referimos.
Em sua discussão a autora diz que nosso cérebro se compõe de mapas corticais somato sensórios e estes se reconstituem a cada novo dia e a cada novo treino.Assim, o treino, ou técnica corresponde a um determinado repertório de movimento, ou seja, uma construção de um determinado mapa cortical. Cada vez mais implicada com a ciência, a dança consegue nesta parceria, a construção de outras formas de conhecimento, também mutáveis e isso está implícito na citação em a autora faz um paralelo entre processo evolutivo e instalação da dança em um corpo. Para isso ela fala de sistemas que se organizam, da ocorrência de flutuações que mudam este estado de absoluta certeza, e que a origem da vida implica em seqüências de instabilidades sucessivas,a partir de uma perspectiva co-evolutiva. A dança analogamente emerge destes acordos, cada obra de dança ao instalar-se esta sujeita à adaptação, seleção e variação. A mutabilidade pela construção de outras formas de conhecimento, também mutáveis, não deterministas e a imprecisão dos acionamentos físico-cognitivos entram em acordo aos princípios de Gödel (Princípio da incompletude) e de Heisenberg (Princípio da Incerteza).
A dança como pensamento do corpo é aqui exemplificada como reflexão teórica/prática no qual o pensamento é tido como organizador de informações/ações, movidas por propósitos. A dança como mecanismo evolutivo ganha complexidade como se organiza no corpo e a ação se processa mesmo que não tenha visibilidade, ocorrendo um fluxo inestancável de conexões e atualizações adaptativas em processo.


Resenha-Iara Cerqueira
Mestranda em Dança pelo Programa de Pós Graduação em Dança – PPGDanca / UFBA, especialista em Fisiologia do Exercício (UNEB / BA) e Instrutora da Técnica de Pilates, Polestar Education, USA. Diretora, bailarina e preparadora corporal do HIS Contemporâneo de Dança.Atualmente desenvolve pesquisa sobre o tema Estratégias Coreográficas, processos colaborativos, sob a orientação da Profa. Dra. Adriana Bittencourt (PPGDanca / UFBA).

4 comentários:

  1. Obrigada pela resenha, o livro é bem dificil, com vc, ficou mais perto do que consigo compreender. Grande abraço.

    Luzia Amélia

    ResponderExcluir
  2. Oi Iara
    Meu nome é Francisco, trabalho com teatro e dança na USP.
    Gostei muito do seu artigo, quero pedir autorização para trabalhá-lo com meus alunos da Universidade Sagrado Coração, de Bauru, SP.
    meu email xykoperes@usp.br.
    Muito obrigado.

    ResponderExcluir